Pés
- Mônica Oliveira
- 15 de out. de 2018
- 2 min de leitura

Pés são grandes reveladores
Reveladores da alma e do físico
Pés cansados, pés inchados
Maltratados por sapatos
Sapatos impostos por uma sociedade de descalços
Que determina a caminhada e a pisada de todos
Que inibe a criatividade dos passos largos e despretensiosos
Pés calejados pela labuta
Labuta de anos sem chegar a lugar algum
Até pés despreocupados, envolvidos em seda chinesa
Pés jovens e amanteigados
Que nunca saberão o que é dor ou inchaço
Os pés são grandes delatores do sofrimento da alma e do corpo
Delatam os distratos causados pela vida
As dores das caminhadas pela sobrevivência
As tristezas e mazelas da alma
Os pés dizem sobre nossa personalidade
Sobre aventuras e desventuras
Sobre o desejo de trilhar outras trilhas
De banhá-los em outras águas
Águas cristalinas e mansas
Longe da ditadura da sociedade urbana
Pés sujos de barro, de chinelos, queimados do sol
Pés livres de uma sociedade que dita regras, moda e o que é politicamente correto
Pés livres empoeirados de longas caminhadas
Pés felizes e despretensiosos
Pobres pés da sociedade,
Tão fechados, suados, angustiados, embalados em sapatos de couro
Loucos para se libertarem e rasgarem essa carapaça
Só eles sabem o quanto manter a dignidade é moroso de pesar
Felizes daqueles que rasgam o véu e buscam por trilhar outras trilhas ainda nesta existência,
Pois há aqueles que nunca se libertarão
E você pode até dizer que tudo está bem
Mas eles gritam que não E há aqueles que podem ouvir
O clamor dos pés cansados de tanta hipocrisia e mentira
Pés inchados, calejados
Pés entristecidos
Os meus são livres e nunca mais se aprisionarão
Nos sapatos apertados da sociedade
Que delira de loucura
Loucura pelo consumismo e pelo achismo
Loucura pela falsa ditadura.
Se eu fosse você cuidaria mais dos pés do que da cor do batom
Pois estes delatores merecem respeito e dignidade
De sandálias confortáveis e de uma boa massagem
De cuidados técnicos que lerão a delação
Destes pequenos e importantes delatores.
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